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sábado, 26 de novembro de 2011

Inquilina dos sonhos


Fotos, o único resto de tempo que restou. Que me faz voltar ao tempo e ver, com a face de um mendigo desconhecido, o amor... Inimiga do tempo, a saudade, que me faz vê-la no rosto das modelos da revista, ou na marca da pasta dental, no cheiro do meu quarto, nas bandas que escuto, nas bebidas, nos porres que levo, nos lábios, nos corpos... Num anagrama com as palavras, brinco de escrever seu nome nas placas, em outdoors, em outros nomes ou em outros amores que, independente de quantas permutações eu faça, nunca me darão um resultado. O nosso amor foi feito à mão... por mãos enrugadas, quase mortas, que num equivoco em sua “sabiência”, criou em um suspiro final a tragédia de uma eternidade. A eternidade que dura como uma chuva de flechas, que escurece o sol, e me desordena, brinca de desenhar com meu coração, como uma criança com um lápis de cera, criando, desenhando sem um contexto real... A felicidade em tons de púrpura, sobre uma folha branca... Sempre a mesma casa, que com seu bosque verde, contrastando a árvore de frutinhas vermelhas... Eu corro por ai, procurando esse bosque... posso sentir o cheiro da lenha queimada que sai da chaminé, feita por mãos inocentes, com tijolinhos de grafite... E eu corro por ai, buscando a liberdade das series da tv... Corro por aquela estrada no deserto, com um carro conversível, tentando chegar a tempo de encontrá-la no aeroporto, a caminho de sua viagem sem volta... Corro por ai, tentando convence-la, que deve ficar, que o seu futuro sou, e que se ela for, eu irei junto... Isso não é frustração... Sim, talvez seja... Mas frustração por uma razão bem plausível... Por querer tanto me perder ou me encontrar com esse tal de amor... só para perguntar (e eu perguntarei) se a inquilina dos meu sonhos mandou noticias...

( Leonardo Ribeiro )


Perspectiva nº61

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