Quando me sinto só, subo para as mais altas colinas que daqui conheço.
No chão eu me deito, e só assim consigo ver no que me tornei cego. Vejo que independente do que passemos o mundo não para. Os pássaros do mesmo modo e jeito continuam seus vôos sem limite, as nuvens do mesmo modo e maneira dançam pelo céu ate não mais serem, o sol todos os dias estará a pino para um novo dia - nada muda.
Os aviões passam, inúmeras pessoas vem e vão para qualquer lugar, fico curioso para saber o que as levam ate eles, mas que por algum motivo a levam. E eu ali estou, deitado vendo o nenhum passar, e enquanto ele passa, nenhuma diferença faço, importância ou mudança para o mundo eu ali me torno, independente de quantas horas eu ali fique, acordado ou dormindo, nada despertara, exceto os mosquitos que de forma alguma respeitam minha reflexão. O vento, aquela brisa que me engana, por um momento ate me faz feliz e livre, livre assim como aquele pássaro - vontade de voar.
Se não tomarmos aquele carrossel, o tempo apagara com uma borracha e tornara invisíveis para os olhos.
Aquela senhora, porque seu filho tanto chora? Mora logo ali, naquela calçada, o garoto que é confundido com lixo, ou as prostitutas que movimentam as esquinas sujas nas noites, os caras que vendem bem ali, bem perto dos carros da policia que também não os vêem, as crianças que limpam o vidro do carro ou pedem uns trocados, os pivetes que roubam a bolsa da senhora. Será que o mundo não vê por cegueira, egoísmo, ou conveniência?
Para muitos é melhor aumentar o som do radio, a descobrir o que esta batendo, fazendo aquele barulho ali em baixo do capo do carro.
O homem no bar, sentando, exausto por sair as quatro e meia da manha para mais um dia a procura de trabalho, será difícil voltar as dez da noite sem novidade para a mulher e seus filhos.
Para o mundo e conveniente esconder uns, e deixar outros onde estão. Pois se todos fossem lembrados aquele homem não estaria no bar as dez da noite pensando no que dizer a mulher, aquela senhora não teria sua bolsa levada pela as crianças, que não estariam nas ruas roubando por umas pedras de crack, outras não estariam limpando o meu pára-brisa, pedindo dinheiro ou vendendo coisas inúteis no sinal, talvez aqueles caras não precisassem vender drogas para ganhar uma grana e os policiais não precisassem ignora-los, aquela jovem mãe estaria em casa vendo a novela e cuidando do filho depois de um dia cansativo de trabalho digno e moral, a não se vendendo nas ruas. Eu não estaria onde estou pelos motivos em que estou. O mundo, ele não para, não atrasa um segundo por isso, nem por aquilo, porque ele simplesmente ignora, ou não vê. E as pessoas continuam suas vidas. Os pássaros não pararão, os aviões e as pessoas que neles voam viverão suas vidas como sempre viveram, os mosquitos continuarão suas vidas e me picando. E você continuara vivendo a sua vida daqui para frente como sempre viveu, ou não... só basta você ver, escolher quem quer ser. ‘Mais um no mundo’ ou mais ‘Um no mundo’?
“Entenda sua vida, ou viva ate entende-la”
( Leonardo Ribeiro )
Perspectiva nº38
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