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domingo, 20 de junho de 2010

Razões


Então hoje, de uma vez por todas descrevo-me nesta carta, e assim a escrevo.
Hoje pela ultima vez, morro pelo que sentia - do que sentia. De uma vez mato a parte de mim que ainda vive, o que me arrasta, me leva para o abismo mais profundo donde pude chagar, mais frio e mais sozinho que pude conhecer. Como num sonho onde caio, caio, caio no infinito do fim que cheguei. Cheguei ao mais extremo ponto, donde um desconhecido, vulgo andarilho, me socorre e me levanta da sarjeta mais suja, e no seu abraço sinto o cheiro, o odor, característico desses sobreviventes, o odor do amor – quando só ele me compreende e me trás o que agora necessito de ter.
Começo pelo mais simples; excluo da vida o que me trás você, apago os sentimentos (ou tento) que um dia pude ter, aqueles que me afastam ao trazer o que nunca mais será de ser. Leio alguns textos e me busco, me sinto a protagonista das historias – dos filmes, a dramaturgia que me leva a uma vida falsa - fictícia. Das dores alheias que me confortam (não que me sinta bem com o sofrimento das pessoas), por me mostrar que por mais a vida tente o contrario, não estou só, assim não discordo do que sinto. Quando leio tenho a certeza de que se um dia cair, terei em alguém a segurança que jamais tive.
Finalmente criei a coragem para confrontar-me! De tanto esperar ele não pode parar e destruiu o que poderia ter sido perfeito – “eterno”, trazendo as cicatrizes. Se você quer saber... não foi bom... Por mais que fora eu pareça ilesa, recebi as piores feridas, os piores estigmas que se pode ter. Meu coração envelheceu, mas não esqueceu o que passou, será como um braço quebrado que para sempre será frágil e dolorido.
Então neste papel eu me leio, em meu leito de morte, enfim escrevo que não há nada que faça voltar atrás, este será o meu fim, ela sim me deu ouvidos. Não falo da minha morte física, mas do coração, do que restou - da vida que se já, ela sim! Se foi para assim dar lugar à outra, que me trará o novo, o inicio com um fim que por mim não será esperado.
Modéstia parte, sempre mereci mais do que sempre tive, assim como os mais velhos dizem:
“Você ainda e muito jovem para saber, viva!”
É! Vou viver, não vou perder mais o tempo que poderá ser vivido.
Certo! Morrera uma parte de mim, assim deixarei que uma nova viva, assim nascerá para me trazer de novo ao novo e por um fim bem peculiar, não me levar a você, e matar o que de ti restou em mim.

( Leonardo ribeiro )


Perspectiva nº16

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